domingo, 28 de dezembro de 2014

Malkuth - O Primeiro Passo

Se você já leu algo sobre Cabala, deve ter recebido a informação de que Malkuth , a décima sephira, representa o plano nosso mundo físico, palpável e sensual(esta palavra ganhou uma conotação sexual nos tempos atuais, mas é significa simplesmente o que pode ser percebido e aproveitado por nossos 5 sentidos).

Se leu isso, está correto.



Agora se você leu que Malkuth é o mundo em que nós humanos vivemos, aí você leu uma informação completamente errada.

Podemos existir em Malkuth, mas viver é uma palavra forte demais: significa aproveitar, realizar, agir. Não decididamente a maioria da humanidade não vive em Malkuth. Podemos dizer que ela existe ou sobrevive em Malkuth, mas viver não.

A maioria da humanidade, em seu estado de sonambulismo terno(ou, poderíamos dizer, estado de zumbi)passa por Malkuth sem sequer notar todos seus elementos. Mais preocupados com o amanhã ou o ontem, eles falham em aproveitar o agora, que é o tempo de Malkuth. Daí o motivo da Cabala(e também do budismo , da yoga e outras filosofias e sistemas) insistirem tanto que você deve "viver o agora". Pois esse basicamente é o primeiro passo.

Entretanto poucos conseguem viver no tempo e local presente. Muitos ficam perdidos nas recordações(boas ou ruins) do passo ou nas preocupações e sonhos do futuro. As pessoas vivem mais em suas mentes ou na montanha-russa de suas emoções do que no mundo sensual, inclusive muitos dos que participam de ordens místicas , mágicas ou ocultas. Pronto, falei!



Bem, chega de enrolação. Passemos a explicar as características desta sephira!

Malkuth é o destino final das emanações de Kether. A energia da divindade passa pela multitude de caminhos e se solidifica na décima sephira, tornando-se os quatro elementos(terra, água, ar e fogo) . 

Da mesma forma, a alma humana descendeu, em um caminho involutório rumo ao plano físico.

Ora, se somos espíritos decaídos que sequer vivemos no plano material, nossa primeira missão na escalada de retorno rumo a Kether(nossa origem) passa primeiro por dominar Malkuth. Isso é óbvio! Entretanto, é muito comum o estudante espiritual negligenciar sua vida no plano físico.

Quantos ocultistas você conhece por aí que sabem bastante de "esoterismo" mas pouco sabem sobre cuidar de sua saúde ou de suas finanças?  Ou como é comum ao aspirante a místico ou a santo ser bem inclinado a seus estudos espirituais mas pouco efetivo no mundo material?

Muitos fazem do misticismo/esoterismo e outros "ismos" uma fuga. Do que eles fogem? Usando um termo técnico para aguçar a curiosidade de vocês, podemos dizer que eles fogem da "Iniciação do Nadir", que nada mais é do que o primeiro passo na senda de ascensão rumo a Kether: o espírito funcionando de forma eficiente e eficaz em Malkuth!

Isso, para quem deseja trilhar a senda de retorno, é obrigatório. Não aceitar este fato é ficar perdido em Qulipoth junto com todos aqueles que você considera como pessoas mundanas pouco iluminadas(ou talvez alguns deles não estejam tão perdidos assim!).

O titulo de Malkuth no Sepher Yetsira é "Inteligência Resplandecente". Isso nos dá uma ideia de muita Luz. Malkuth é o ponto de foco(concentração)da Luz de Kether .

Falando nisso, vamos colocar algo que muitos livros sobre Cabala possuem: uma lista das correspondências desta sephira!



 Malkuth - Reino

Localização: 10ª Sephira, está na base do Pilar do Equilíbrio(também chamado de Pilar do Meio).
Outros nomes: Inteligência Resplandecente, Jardim do Éden, O Fruto Do Jardim do Éden, O Portal do Jardim do Éden, Plano Material Primário,Portal da Morte, Portal das Lágrimas, A Mãe Inferior, Malkah,  Corpo Físico.

Imagem: uma jovem mulher sentada em um rico trono e coroada. Possui cabelos pretos e curtos. Veste uma capa(estilo a do Superman) preta e um robe(ou balandrau) branco. Sua coroa é de prata. Possui em sua cintura um cinto de ouro. E, as vezes, uma foice prateada em sua mão direita.

Nomes divinos: Adonai Ha Aretz e Adonai Meleck.

Arcanjo: Sandalphon

Ordem de Anjos: Ashin, as almas de fogo.

Palácio: Cholem Ha Yesodoth, a esfera dos elementos.

Planeta: A Terra, mais apropriadamente os quatro elementos.

Outros símbolos: o pantáculo, o sal, vinhas, trigo, o altar cúbico, a cruz maltesa, o círculo mágico, o triângulo da evocação, X.

No corpo humano: os pés.

Cores: Citrino, verde oliva(ou "verde claro"), preto e "vermelho escuro"(na verdade, um castanho avermelhado).

Virtude: descriminação.

Vicio: A Avareza e a Inércia.

Experiência Espiritual: O Conhecimento e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião.

No Tarô: os "10" dos arcanos menores.

Os nomes de "portal da morte" e "portal das lágrimas" podem assustar, mas como dizia Dion Fortune, "cada pessoa vive para morrer e morre para viver" e "para a consciência maior o útero é uma sepultura e a sepultura é um útero". Nascimento e morte são ambos experiências de nascimento e de morte e a iluminação que muitos buscam trata-se também de um nascimento que também é uma morte.. Confuso? Não é não. É apenas uma verdade inconveniente.

Perder o medo da morte e aceitá-la como algo natural e necessário é uma das lições de Malkuth. Viver a vida de forma plena e atenciosa também!

Por isso temos que cuidar bem de nosso corpo físico, pois ele não é menos sagrado que nossa alma. Meditar, orar e praticar diversas artes esotéricas podem levar a uma experiência legal com nossa alma, mas se estivermos doentes ou fora de forma , pouco desse lado espiritual poderá ser conseguido.



Alguns podem estranhar na lista acima o nome de Sandalphon como arcanjo. Para práticas cabalistas elementares, ele está correto. Mas alguns puristas podem dizer que estou ensinando errado, então eu logo digo que Sandalphon, de fato, é o arcanjo do planeta Terra. O arcanjo de Malkuth é Metratron e o arcanjo de elemento terra é Uriel. Entretanto, usem Sandalphon para seus trabalhos elementares com a Arvore da Vida.

Os vícios de Malkuth são a avareza e a inércia. A inércia ataca 100% das pessoas que desejam mudar sua vida, evoluir espiritualmente ou que entram em uma ordem iniciática. Determinação , perseverança e pureza de propósito são essenciais. Com isso, fica claro que a descriminação é o segredo.



Discriminar tem um peso negativo nos dias de hoje(logo pensamos em discriminação racial, religiosa, etc), mas nada mais é que o bem pesar e escolher. Nas iniciações de muitas ordens, duas pergunta são comuns nos rituais: "O que você quer?" e "de onde vem?". Geralmente as respostas  " quero iluminação" e "venho das trevas da ignorância".

Usar a discriminação é evitar que você se junte a uma ordem iniciática para fugir das coisas ruins de sua vida(justamente o oposto de Malkuth!). E também evita que você caia nas mãos de falsos profetas,  falsos gurus e falsos mestres.

Falei acima sobre pureza de propósitos. Isso também determina como a Avareza deve ser combatida, pois a partir do momento que sua intenção é pura(não confundir com boazinha, embora também deva ser as vezes), sua necessidade de ficar apegado a sua situação atual(ou a "coisas"...) desaparece, pois você entende que tudo é passageiro e para que o novo aconteça, deve existir um espaço aberto para o mesmo.

Antes de irmos para a prática, vamos falar da experiência espiritual de Malkuth. Muitos acham que essa experiência é de Tiphereth e de fato na sexta sephira temos o segundo passo desta experiência. Em Malkuth temos o primeiro, que é a visão dessa experiência.


Não entendem visão como imagem ou aparição. É a visão de sua missão em vida, do que deve ser feito para completar seu destino evolucionário. Mas mesmo "visão" é um termo muito aberto, com muitas interpretações. Nem tentem entender, pois essa experiência é inefável, e não pode ser explicada em palavras. Apenas a busquem, se quiserem.



Práticas

1. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola são muito recomendáveis para aqueles que possuem fé cristã e que não fazem parte de nenhuma odem iniciática. Pesquisem e pratiquem!

2. Um exercício comum em muitas ordem é o de, antes de dormir, relaxar o copor e fazer uma retrospectiva de como foi o seu dia, só que de trás para frente. Comece lembrando a ultima coisa que te aconteceu e aí vá retrocedendo, como num filme, até chegar a primeira coisa que você fez ou pensou no dia. se por acaso notar alguns momentos em que você agiu de forma incorreta, não se recrimine, apenas se perdoe. Da mesma forma, se notar momentos em que agiu corretamente, não se elogie, apenas admita que agiu de forma correta. Pode ser que note ações negativas ou positivas de outras pessoas em relação a você. Apenas abençoe essas pessoas, desejando luz e bem a elas. A prática constante desse exercício vai lhe trazer algumas boas surpresas...

3. Coma alimentos saudáveis e, em cada refeição, abençoe sua comida. Coloque suas mãos acima de seu prato e peça que essa comida seja abençoada para que seu corpo seja nutrido e fique forte para a realização da Grande Obra. Não menospreze isso!

4. Continuando a prática acima, faça exercícios diários. Se possível entre em uma academia. Cuide de sua saúde!

Talvez você imagina-se que eu iria passar rituais elaborados. Mas não! Caso você esteja em uma ordem iniciática, siga os rituais que esta te recomenda. Caso não esteja, use apenas o que eu disse e já vai ter uma mudança verdadeira em sua vida.

Em muitas ocasiões vou soar repetitivo, inclusive dentro do mesmo post. Isso é intencional e tem a ver com o assunto deste texto.

Em muitos cursos de Qabbalah ou Kabballah é ensinado que o estudo da árvore da vida começa com Kether. Isso pode ser se você quiser apenas momentos de paz, mas a verdadeira evolução ocorre no plano físico. Temos uma tendência em querer o que é distante e misterioso, mas o primeiro passo na senda de retorno sempre será Malkuth.

Fontes consultadas(e recomendadas!):

A Practical Guide to Qabalistic Symbolism - Gareth Knight
A Cabala Mística - Dion Fortune


quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Duas Versões da Árvore da Vida

Ao pesquisar sobre a Árvore da Vida, é muito provável que você se depare com diferentes formatos e diferentes explicações sobre sua referida aparência afirmando que a mesma é correta. E todas estão certas!

A Árvore da Vida, enquanto símbolo inexistia na Kabbalah Judaica até bem pouco tempo atrás, tipo menos de 40 anos. A religião judaica, assim como o islamismo, proíbe gravuras que tenham o intento de retratar as coisas divinas e é por isso que você não vai encontrar material antigo que mostre o formato da árvore. Pelo menos não feito por judeus.

Na época do Renascimento, alguns praticantes cristãos de Cabala deram forma a Árvore da Vida e, com isso, o símbolo que conhecemos apareceu.



Entretanto, conforme a Cabala foi sendo adaptada para a religião cristã e, principalmente , os sistemas místicos ocidentais, muitas formas para se representar a mesma foram surgindo. 

Praticamente cada movimento/ordem/religião desenhava a Árvore da Vida de uma forma diferente até que, com o surgimento de grandes autores cabalistas no século 19 , as diferentes formas de se desenhar a Árvore da Vida condensaram-se em duas principais.

A primeira da que vou falar está logo baixo:


Esta forma da Árvore da Vida é a que você vai encontrar em cursos de Kabbalah judaica abertos para não judeus, como os ministrados pelo Kabbalah Centre. Esse símbolo é derivado dos ensinamento do rabino Isaac Luria e, por isso, é chamado de Árvore da Vida Luriânica.

Foi este mesmo formato que foi utilizado por grandes ocultistas como Papus Eliphas Levi . As ordens martinistas e algumas ordens rosa-cruzes o utilizam até hoje em seus ensinamentos.

Já a segunda forma, e a mais popular,  é a abaixo:





Sua popularidade é devida a Ordem Esotérica da Golden Dawn, onde era utilizada exaustivamente. Grandes autores como MacGregor Mathers, A.E. Waite, Dion Fortune, Aleister Crowley, Israel Regardie e Paul Foster Case utilizavam esta versão em seus livros.

Ela é chamada de Árvore da Vida Hermética e é esta a versão que adotarei neste blog.

Mas qual dessas versões é a correta? Ambas são bastante diferentes na posição das sephiroth e dos caminhos. Isso não daria xabu?

A resposta é não. A Árvore da Vida não possui realidade objetiva. Em suma, ela não existe. Ela é um símbolo usado para auxiliar o ser humano em sua evolução espiritual. Ambas as versões, no tocante ao tratamento dos caminhos e das sephitoth estão corretas, pois o que faz o ser humano evoluir espiritualmente não é o estudo dos símbolos e sim do que o símbolo deseja mostrar. E , nisso, ambas são idênticas.

Neste blog , todos os posts serão baseados em material de estudo que leve em consideração a segunda versão da Árvore da Vida e os autores que com ela trabalharam. Se você participa de alguma ordem que use uma versão diferente, mesmo assim terá muito a aproveitar!

A partir do próximo post, vamos mergulhar fundo em cada uma das sephiroth. Até lá!


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O Nome Sagrado na Cabala

Um dos elementos mais importantes da Cabala, e da religiosidade Judaico-cristã, é o nome de Deus.

Composto por quatro letras, יהוה(da direita para a esquerda Yod He Vav He) , ele é considerado impronunciável, mas mesmo assim o ser humano já tentou muitas vezes transcrevê-lo para a linguagem falada. A mais comum interpretação é Yehovah, e dessa pronuncia surgiram tanto o Jehová dos países de língua inglesa tanto quanto o Jeová dos países de língua portuguesa. Mas muitos estudiosos afirmam que a pronuncia que mais se aproxima do original seria Yaweh que em português é traduzido em muitas bíblias como Javé.

A pronuncia original perdeu-se muito antes do advento do cristianismo.Ela era um conhecimento reservado apenas aos sumo sacerdotes do judaísmo. E o mesmo só podia pronunciar o nome sagrado em um dia especial, o dia do Yon Kippur, o dia da expiação dos pecados. Nesse dia, o sumo sacerdote adentrava uma parte do templo chamada de Santo dos Santos(onde estava a Arca da Aliança) e pronunciava o nome sagrado da forma correta.

Infelizmente , quando da invasão da Babilônia, tanto o conhecimento(devido a morte de muitos dos sacerdotes) quanto o Templo de Salomão(também conhecido como Primeiro Templo) foram destruídos. A Arca da Aliança teria sido escondida e estaria assim até hoje, esperando a hora certo chegar para sua volta.

Na Cabala, ele também é uma fórmula de grande importância e está associado aos quatro mundos, onde cada letra corresponderia a um destes. Isso nos ajuda a entender um conceito importante: o de associar as letras do alfabetos hebraico a outros significados, como números , elementos e mesmo planos de existência.

י : está associado a Atziluth e, portanto, também ao elemento Fogo.

ה: está associado a Briah e ao elemento Ar.

ו: está associado a Yetzirah e ao elemento Água.

ה:está associado a Assiah e ao elemento Terra.

Conforme eu for postando aqui no blog, novas atribuições serão dadas a essas letras. O importante agora é justamente ir mostrando que o alfabeto hebraico e a Cabala são "muito mais do que parecem ser".
Uma das interpretações é que, por uma visão alquímica da Cabala(ok, fui redundante aqui, mas foi de propósito...), cada letra seria correspondente a uma região do corpo. Podemos ver essa relação nas imagens abaixo.



Abaixo, uma imagem mais "óbvia" que a anterior:



Com isso, cria-se novas maneiras de se trabalhar os princípios da Cabala, principalmente com quem pratica cura energética(ex: reiki, Johrei, cura prânica), pois baseando na região onde se encontra o problema , temos uma ideia do elemento relacionado com aquela região e, com isso, pode-se agira diretamente não somente nos sintomas mas nas causas da doença. 

Afinal, se o indivíduo está com dor no quadril ou sofre com algum tipo de disfunção erétil, isso poderia de alguma forma estar relacionado a maneira com que ele enxerga e trata sua vida mundana, principalmente no tocante a suas posses e maneiras de se ganhar dinheiro? Ou, talvez, ele seja "cabeça dura", resistente a mudanças, e isso poderia ser uma causa de suas dores? Ou, pior, seja alguém carregado de traumas que não utiliza suas "habilidades sexuais"?

A Cabala diz que sim e, assim como a medicina chinesa, pode apontar possíveis soluções tanto para o fisioterapeuta, quando para o curador holístico e até mesmo para o psicólogo! 

É importante frisar que estudar Cabala não substitui o tratamento médico convencional(e muito menos o profissional de saúde devidamente qualificado) de nenhuma maneira, mas pode sim aumentar as chances de cura drasticamente.

Uma outra visão seria a do relacionamento entre o Tetragama Sagrado e as partes constituintes do conjunto espírito/mente/corpo do ser humano:

Yod: Superconsciência.

He: Subconsciente.

Vav: Consciência objetiva.

He: Corpo físico.

Utilizando de uma linguagem poética, podemos ver Yod e o primeiro He como, respectivamente, o "Pai" e "Mãe" universal, enquanto Vav seria "o Filho". Juntos , eles seriam o individuo, que toma residência com sua "noiva", o He final, relacionado ao corpo físico.

Sim, para aqueles especialistas em Bíblia, o parágrafo anterior contém uma chave muito importante. Já o restante deve ter achado meio enigmático, mas cada coisa a seu tempo.

Continue conosco. No próximo post examinaremos as diferentes versões da Árvore da Vida. Até lá!






domingo, 26 de outubro de 2014

A Fórmula do Paraiso


Antes de começarmos a detalhar as sephiroth e os caminhos entre elas de forma detalhada, é importante falarmos de um importante assunto: a Fórmula do Paraíso.

Esta "fórmula" é usada como método de estudo da Árvore da Vida e carrega, dentro de si, correspondências importantíssimas para a compreensão da mesma. É uma formula secreta que é usada para decifrar textos sagrados, principalmente aqueles que fazem parte do Pentateuco(os cinco primeiros livros do antigo testamento da Bíblia). Ela também pode ser utilizada em outros livros tradicionais da Cabala.

A fórmula é a seguinte: Pshat, Remez, Drosh e Sod. Ela é abreviada como PRDS e pode ser entendida como:

P: o entendimento do texto em seu sentido literal.

R: o entendimento do texto em seu sentido simbólico.

D: o entendimento do texto em seu sentido pessoal(o que o texto "diz para você").

S: o entendimento do texto em seu sentido secreto(usando aqui, em diversas vezes, a gematria).

Uma das maneiras de se referir a esta fórmula é escrevendo PaRDeS, (pronuncia: Pardés), que significa Paraíso.

Esta formula, se bem entendida, não se limita a textos sagrados e pode ser aplicada a tudo. Sim, literalmente TUDO.

Por exemplo, quando um homem conhece uma garota, a primeira coisa que ele "nota" é a sua aparência(sentido literal). Logo depois, muitas vezes de forma inconsciente, a aparência da garota(roupas, forma com que arruma o cabelo, maquiagens, tatuagens, etc)faz com que ele gere uma interpretação da possível personalidade da garota(careta, rebelde, desleixada, elegante, etc). Esse é o sentido simbólico!

Após conversar com a garota, ele já tem um quadro da garota: ela já causou uma impressão em seu interior, tanto mental quanto emocional(sentido pessoal) e, com isso, ele já pode traçar alguns hábitos e comportamentos dela em outros ambientes(sentido secreto).

Esse exemplo é bem superficial, mas mostra uma utilização convencional da fórmula. Ela pode ser também utilizada no mundo dos negócios, dividindo um planejamento em quatro partes : estratégia(P), tática(R), operacional(D) e funcional(S).

Essa flexibilidade da fórmula ocorre porque ela é, na verdade, um espelho dos quatro mundos dos quais falamos. Com isso em mente, fica fácil estabelecer muitas comparações, inclusive com o funcionamento da mente humana. Veja abaixo a correspondência de cada mundo com a respectiva letra:

P: Assiah

R: Yetzirah

D: Briah

S: Atziluth

No próximo post daremos continuidade a explicações sobre a Árvore da Vida. Até lá!



terça-feira, 14 de outubro de 2014

Os Quatro Mundos e a Luz Infinita

Antes de delinearmos a Árvore da Vida e seus componentes, faz-se necessária uma explicação sobre a seguinte questão: o que são , afinal essas esferas?

É impossível estudar Cabala de uma perspectiva ateia, pois em sua essência, as esferas da Árvore da Vida são emanações do Criador. Não importa se você esse criador de Deus, Jeová, ou qualquer outro nome. É premissa básica da Cabala que o Criador decidiu se fazer presente , criar o universo, e a Árvore da Vida é o mais próximo que podemos chegar da ideia original do Criador a respeito de sua criação.

A Árvore da Vida não é o esqueleto de Deus, nem Sua representação. Essa seria uma interpretação panteísta(a ideia de que Deus está em tudo e todos e é tudo e todos). Já a Cabala é teísta(acredita na existência de Deus e em sua revelação através das religiões) ou, em algumas vertentes modernas, deísta(acredita que Deus existe, mas o coloca distante de sua criação). Para a Cabala, Deus é um ser real e dotado de consciência, ainda que totalmente incompreensível.

Ela é uma descrição aproximada de como a Luz Divina se manifesta em nosso universo.
Deus, na Árvore da Vida, estaria então acima de Kether, a esfera mais alta. Mesmo essa descrição ainda não faz jus ao local de existência da divindade na Cabala, mas é a única que podemos compreender. O Criador , portanto, estaria situado imediatamente além das emanações acima de Kether e que dão origem a toda a árvore. Essas emanações, com suas traduções aproximadas, são:




1- Ain: O Nada

2- Ain Soph: O Nada Infinito

3- Ain Soph Aur: A Luz Infinita

Repare que a palavra nada acima não significa algo que não existe, e sim, algo que não pode ser descrito, pois antecede o próprio conceito da existência de alguma coisa(ou de qualquer coisa). Atenção nisso!

É um conceito deveras complexo, e que pode ser simplificado com o estudo do livro do Gênesis, em seus primeiros trechos.

Os Quatro Mundos

Voltando a falar da Árvore da Vida, temos outro importante conceito: o de sua divisão em quatro mundos. Eles são os seguintes:

1. Atziluth, o Mundo do Arquétipo

2. Briah, o Mundo da Criação

3. Yetzirah, o Mundo da Forma

4. Assiah, o Mundo da Ação

Esses mundos podem ser considerados como cada um sendo composto de uma única Árvore da Vida ou como sendo uma única Árvore da Vida dividida em quatro seções.

No primeiro modelo, cada mundo conteria uma Árvore da Vida completa, com suas dez esferas e estariam ligados entre si por suas esferas inferiores e superiores. Por exemplo: a sephira Kether contida no mundo de Assiah estaria ligada a esfera Malkuth do mundo de Yetzirah. Alguns autores vão mais longe e afirmam que Kether de Assiah seria a Malkuth de Briah, enquanto Tipheret de Assiah seria Malkut de Yetsirah. Nesta  visão, a mais difundida e aceita,  Tipheret seria o elemento de ligação entre os mundos. Nesse modelo temos, numa visão geral, quatro Árvores da Vida, totalizando 40 esferas. Um número repleto de significados e simbolismos, principalmente na Bíblia.




A esse primeiro modelo geralmente é atribuído o nome de Escada de Jacó.

Já o segundo modelo divide a Árvore da Vida em quatro segmentos. Se as esferas são as emanações da Divindade feitas universo, então a divisão das mesmas em quatro grupos distintos facilita sua compreensão, pois assim podemos situa-las em uma escala energética. Cada mundo na Árvore da Vida, pode ser representado tanto por um dos quatro elementos, quanto por uma das características da alma humana, entre outras correspondências.




Seguem abaixo uma descrição breve dos quatro mundos, bem como de suas correspondências:

Atziluth

É também chamado de Plano Divino. Corresponde ao elemento Fogo e é constituído pelas sephiroth Kether, Chockmah e Binah.Nesse ponto, a Criação ainda está intimamente unida a Luz Infinita e , portanto, em intimo contato com o Criador.

Briah

É também chamado de Plano Mental. Corresponde ao elemento Ar e é constituído pelas sephiroth Chesed, Gevurah e Tipheret. Aqui os arquétipos, já distantes da Luz Infinita, começam a tomar forma através das ideias e com isso, aparecem as primeiras divisões , contrastes e desequilíbrios. Isso de um ponto de vista descendente é claro! De um ponto de vista ascendente, subindo a partir de Malkuth, podemos dizer que é nesse mundo que o equilíbrio começa a se estabelecer.

Yetzirah

É também chamado de Plano Astral ou de Plano Emocional.  Corresponde ao elemento água e é composto pelas sephiroth Hod, Netzach e Yesod. Aqui a Luz Infinita, ainda mais distante do Criador, toma a forma das emoções. A idéia vira uma imagem e , com isso, multiplicam-se as interpretações. "Mente" e "coração" são equilibrados pela Espiritualidade e nela os sonhos se encontram com o reino dos mortos. E não poderia ser diferente...

Assiah


É também conhecido como Plano Físico ou Material. É, até certo ponto, o mundo que consideramos como "real". Ele corresponde ao elemento terra e está tão afastado da Luz Infinita que reinam as divisões e as dualidades. Mas existe uma esperança: ao se dedicar a materialidade ao retorno a Luz Infinita pode-se "subir" a Árvore da Vida e a cada caminho recuperar o tão desejado equilíbrio. É aqui que temos a primeira (e talvez  maior) lição da Cabala: é aplicando a discriminação no mundo material, e não fugindo dele, que conseguiremos ascender espiritualmente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A Árvore da Vida

Talvez o símbolo mais conhecido do esoterismo atual seja a Árvore da Vida. E também o mais simples, pelo menos em sua construção.

A Árvore da Vida é um grande símbolo feito para englobar TUDO. Isso mesmo, literalmente todo e qualquer aspecto da vida de uma pessoa ou mesmo do universo pode ser relacionado a uma parte deste símbolo.  Entretanto, este importante símbolo inexiste na Cabala Judaica, pois a mesma proíbe a confecção e o uso de símbolos deste tipo. 

O conceito da Árvore da Vida foi introduzido em obras esotéricas judaicas como o Zohar e o Sepher Sephira e era conhecido por poucos fora da religião(mesmo dentro do judaísmo a cabala era pouco conversada). Alguns, como Christian Knorr von Rosenroth e Pico Della Mirandola estudaram a fundo este conhecimento e o adaptaram ao Esoterismo Cristão. As obras destes viriam a influenciar o movimento Rosa-cruz. Ou foram influenciadas por eles, dizem alguns!

No século 19 o conhecimento sobre a Árvore da Vida passou a figurar proeminentemente nas obras de Eliphas Levi, Papus, Mac Gregor Mathers entre outros. Com isso, houve uma revolução no conhecimento esotérico ocidental.

Eis o símbolo:



Como podem ver a Árvore da Vida consiste de 10 esferas, ligadas entre si por linhas, que são denominadas caminhos. Em hebraico, as esferas tem o nome de sephira(singular) e sephiroth(plural). Cada caminho corresponde a uma letra do alfabeto hebraico.

Os nomes das sephirot, com suas respectivas traduções do hebraico para o português, são os seguintes:

1.  Kether(Coroa)

2.  Chokmah(Sabedoria)

3.  Binah(Entendimento)

4.  Chesed(Misericórdia)

5. Gevurah(Severidade)

6. Tipheret(Beleza)

7. Netzach(Glória)

8. Hod(Esplendor)

9. Yesod(Fundação)

10. Malkuth(Reino)

Olhando para a figura da Árvore da Vida e comparando com a figura abaixo, notamos que ela pode ser dividida em três triângulos: o triangulo superior é chamado de Triangulo Divino, o do meio de Triangulo Ético e o mais inferior de Triangulo Astral




Veja que Malkuth não participa de nenhum triângulo e isso é correto pois na Árvore da Vida ele representa, até certo ponto, nosso mundo material(plano físico e corpo físico). Digo isso porque, a maioria da humanidade(segundo a Cabala), não estaria pertencendo nem sequer em Malkuth e sim adormecida , em um estado de piloto automático que lembraria o sonambulismo...ou pior!

Podemos dividir a Árvore da Vida da vida em três colunas ou pilares: a da direita seria o Pilar da Misericórdia ( também chamada de coluna da força ou coluna masculina), a da esquerda o Pilar da Severidade(também chamada de coluna da forma ou feminina) e a do meio seria, bem, o Pilar do Meio ( também conhecida como coluna do equilíbrio ). Confira na figura abaixo:



Na descrição acima, tanto masculino quanto feminino estão em um contexto simbólico: masculino é aquele que dá e feminino é aquele que recebe. Lembrem-se de eletricidade e de tomadas e vão entender. Já o Pilar do Meio representa não a neutralidade mas a harmonia entre as colunas laterais.

Esse é apenas um post introdutório. Nos posts seguintes vamos nos aprofundar nas naturezas e qualidades das sephiroth, dos caminhos da Árvore da Vida e pra que afinal serve tudo isso. Até lá!








quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Cabala Literal

Como já mencionamos, a centro da doutrina cabalística está na interpretação do alfabeto hebraico. A este ramo de estudo denominamos Cabala Literal.
Esta interpretação, por sua vez, é derivada tanto da interpretação numerológica do mesmo quanto de suas correspondências astrológicas e energéticas em relação a Arvore da Vida. Deste fantástico símbolo falaremos mais adiante. Agora chegou o momento de tratarmos do trabalho com as letras em si, que envolvem três técnicas diferentes. Cada uma delas contém uma filosofia que ajuda a entender melhor a natureza de TUDO.
As três subdivisões da Cabala Literal:
• A Gematria
• O Notaricon
• A Temura
Gematria é um modo de interpretação pelo qual um nome ou palavra possuindo determinado valor numérico são consideradas equivalentes ou relacionadas a outras palavras com o mesmo valor. Assim, o numero passa a representar uma ideia em si e as palavras com esse numero são diferentes expressões ou derivações da mesma ideia.
Por ex, a palavra Messias, em hebraico, possui o mesmo valor(358)da palavra Siló(ver Gênesis 10,49), portanto se considera que o livro do Genesis contém, no trecho citado, uma profecia do futuro Messias. Também a Serpente de Bronze que Moises usou para afugentar a praga de cobras(Números 21, 4-9) possui em seu original em hebraico,Nachach, o mesmo valor(358).
Já o Notaricon funciona através de abreviações e é de interpretação mais complexa. Ele possui dois modos. No primeiro um nome é formado pelas letras iniciais e finais de uma ou mais palavras. No segundo, usa-se as letras de um nome são usadas para se formar as letras iniciais das palavras contidas em uma determinada frase.
Por exemplo, em Deuteronômio 30,12 é atribuído a seguinte frase a Moises: “Quem subirá por nós ao céu”. No original em hebraico, as primeiras letras de cada palavra formam a palavra Milah, que significa “circuncisão”. As ultimas letras de cada palavra formam IHVH (Yaweh, ou Javé, ou Jeová), Deus. Logo, uma analise revela a circuncisão como caminho para se ir até Deus.
Para exemplificar o segundo método, temos a palavra Amém, que em seu original em hebraico é formada pelas iniciais da seguinte frase: Adonai Melech Namem, que significa “O Senhor Rei Fiel”. Da mesma maneira, uma palavra muito utiliza por ocultistas, AGLA, é formada pelas iniciais da frase Ateh Gibur Le-Olam Adonai, que significa “O Senhor eternamente poderoso”.
Temura é a mais complexa das técnicas, pois envolve a substituição (troca) de letras em uma frase ou palavra com o intuito de transmitir uma mensagem. Pode-se também escrever de trás para frente algumas palavras em uma frase. Tudo isso seguindo, é claro, regras rígidas, pois senão ninguém desvendaria o código para se compreender a mensagem.
Vai além do escopo deste post ir mais a fundo na explicação da Temura. Ou , sendo sincero, ela é tão complexa que temo falar alguma besteira…

Fontes consultadas e usadas para a criação deste post:
An Introduction to the Study of Kabbalah, W. Wynn Wescott.
Kabbalah Unveiled, S. L. MacGregor Mathers.