domingo, 8 de janeiro de 2023

Peh, o Caminho (27) da purgação

 

Peh, o Caminho 27

 

Voltamos a produzir textos para este blog,após cinco anos de ausência,  inspirados devido a uma renovação provocada por uma nova discípula. Provocações e desafios, muitas vezes, são o combustível da evolução espiritual.


 

 

O caminho 27 liga as sephiroth Netzach e Hod, o Pilar da Severidade com o da Misericórdia. Esse caminho, também conhecido no Sepher Yetzirah como “Caminho da Inteligência Ativa” (também no sentido de excitação) forma uma espécie de checkpoint na Arvore da Vida, de véu a ser “rasgado”. Levando-se em conta as esferas de Hod, Netzach e Yesod, temos um triângulo com a ponta voltada para baixo, onde Peh seria um dos lados. Juntas , estas sephiroth formam a tríade da personalidade.


 

Além de ligar nossas emoções (Netzach) com nossa razão (Hod), este caminho traz uma ideia de equilíbrio entre essas forças, que não são necessariamente opostas, mas complementares. Ligado as energias representadas no esoterismo pelo planeta Marte, Peh representa que as emoções não precisam ser controladas e , sim , compreendidas. Muito mal pode advir de negarmos nossas emoções, de querermos não sentir tal coisa e sentir outra coisa no lugar. Este caminho representa uma postura ativa diante de nossos sentimentos, mergulhando neles e os compreendendo, conhecendo suas causas e consequência. Aceitando nossas emoções como parte de nós, começaremos a trabalhar de fato por uma melhora das mesmas.

Mas o que acontece quando negamos nossos sentimentos ou, pior, permitimos que eles fiquem desequilibrados em relação a razão e dominem nossas decisões? E o contrário, quando somos guiados por uma pretensa racionalidade e negamos nossas emoções?

Acontece isso:


 

 

Peh é o caminho atribuído ao arcano 16 do Taro chamado de “A Torre” ou de “ A Casa de Deus”.


 

 

É a destruição da torre construída como objeto de vaidade, de adoração a um falso deus(o Ego). Conforme você vai se aproximando da Verdade, as mentiras de sua vida caem. E este processo é doloroso. Apegamo-nos as mentiras, principalmente aquelas que nos mesmos criamos sobre nós, as doces ilusões criadas para sustentar nosso Ego perante este mundo cruel. Tal qual o raio que destrói a Torre, tais ilusões são destruídas.


 

Na Bíblia existe a história da Torre de Babel, construída por homens que ousaram chegar mais perto de Deus. A motivação, o orgulho, faz com que cometemos atos com o intuito de inflar nosso Ego. Quem já não conheceu um homem ou uma mulher que se encaixe na seguinte história:

Mara amava João. João não a amava, mas mantinha Mara por perto, pois Mara o enchia de elogios, dizia que gostava muito dele e isso fazia João se sentir bem. Mara era apenas mais uma dentre cinco pessoas que João mantinha contato com esse intuito. João não tinha nenhuma intenção de ter algo com nenhuma das duas, mas distribuía migalhas de atenção e carinho para manter elas por perto.

Em primeiro momento, parece que João escraviza essas garotas se aproveitando da carência que elas tem e dos sentimentos que nutrem por ele. E sim, é isso que acontece de fato. Mas João também é escravo: seu Ego o escraviza totalmente e é o centro de sua vida. Um dia, João perceberá quanto tempo perdeu com joguinhos como esse e esqueceu-se do que realmente queria para sua vida e não sabia. Nesse momento, será como o arcano da Torre.

 


Peh significa boca, que é a parte do corpo responsável pela entrada do alimento em nosso ser e também pela saída das palavras de nosso ser (também conta quando você usa um teclado?). Logo , esse caminho ensina o equilíbrio entre aquilo que colocamos para dentro de nós e aquilo que colocamos para fora de nós. Ultimamente, você anda colocando coisas boas para dentro de você, não somente comida, mas é conhecimento aproveitável? E o que coloca para fora? É algo bom? E as partes de sua vida que você deveria retirar de seu ser, as partes podres ou sem utilidade para sua evolução?

Alguns podem se perguntar por que em algumas versões, como no Tarô de Marselha, o arcano 16 é chamado de “A Casa de Deus”. Parte da explicação pode estar na profunda semelhança da letra Peh com a letra Beth, que significa justamente “casa”. Logo, podemos dizer que quando purificamos nosso ser de tudo o que não nos serve e que tudo o que resta dentro de nos( e tudo o que sai e o que entra) é puro, nos tornamos a verdadeira Casa de Deus, nem que para isso seja necessário tomarmos um raio na cabeça para aprender!

Na maçonaria o segundo grau carrega uma espécie de superstição: é o grau onde o maçom sofre muitas tentações e provações - onde muitas coisas dão errado na vida do ir...- para ver se quer continuar o caminho da luz , rumo a P... P... . Isso é tão forte que muitos maçons ficam menos de um ano nesse caminho e depois mal se lembram do grau. Grande erro! Tanto Peh quando o grau 2 da maçonaria simbólica simbolizam o Calcinatio, operação alquímica , onde as impurezas são literalmente queimadas e apenas o que é puro sobra.

Quando você chega perto da Verdade, o que é falso começa a desmoronar e as mentiras começam a serem reveladas!

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

A Acídia: uma visão pessoal

 

Escrevi esse texto em 2009. Acredito que ele possa ser útil para algumas pessoas e resolvi mostrar ao mundo. 

Em breve, vou continuar com as postagens a respeito dos caminhos da Arvore da Vida e das Sephiroth.

Existe um defeito capital (ou pecado capital , se preferir) que hoje em dia denominamos de preguiça, mas já foi chamado de melancolia e, originalmente, de acídia. Há que diga que logo a chamaremos de boredom, tédio, mas o nome não faz jus.

 

Relativamente comum àqueles que tem a Lua ou aflita, ou em signos de água, ou que possuem o Sol aflito e em signos de água, a acídia é o primeiro defeito que todos tem que vencer ao se elevar e começar a trilhar os caminhos da Árvore da Vida, pois está ligada , principalmente , a Yesod .

 

Antes, devo deixar claro que acídia não é o mesmo que depressão. Depressão é uma doença que possui causas diversas e seu tratamento deve ser junto a um médico psiquiatra ou a um psicólogo devidamente formado em uma faculdade. Ponto.

 

Ao pensar sobre a acídia, não pude deixar de fazer a ligação com o sentimento de deixar a vida aos sabores do vento, de se ir aonde a vida  levar, sem executar nenhuma ação. Uma fuga (através da tristeza) da responsabilidade. Pior: medo da responsabilidade. E medo de viver. Tristeza, derrotismo e medo.

 

Ao primeiro momento, sem ter antes nenhum contato com a palavra ou seu significado, acídia me pareceu uma preguiça moral. A falta de atitude leva a pessoa a não praticar as virtudes e, consequentemente, ficar sem os dons naturais e sobrenaturais do Espírito. Mas, a medida que meditava o significado do termo, percebi que a acídia instila no ser humano um comportamento derrotista, carregado de fatalismo, no qual o individuo prefere ficar parado, em sua ilusória segurança, do que fazer alguma coisa que pode levá-lo a vida ideal que ele tanto sonha mas que não acredita alcançar.

 

Ora o que causa tal comportamento? Pode ser um problema de natureza social, mas eu não acredito nisso. Em minha opinião, o mal está enraizado na alma do individuo, a qual ele conhece tão pouco.

 

O Pessimismo

 

O materialismo domina a sociedade atual. Há no ser humano um ímpeto para consumir e ser consumido. Para atender as expectativas dos outros. E para ter suas expectativas atendidas também. Muita se deseja, muito se cobiça. Pouco se conhece. Talvez o problema esteja aí: o ser humano tem a ideia de um modelo pessimista da vida, no qual nem tudo pode dar certo e muitas coisas já nascem erradas. Nem vale a pena tentar, dizem muitos. Vai dar errado, não vale o esforço.

 

A visão humana, muitas vezes, carece de esperança. A pessoas não acredita mais nas instituições, nos livros, nos meios de comunicação. Não acredita em sua capacidade de criar, de inventar, de superar dificuldades. Com isso, a tristeza vem. O Homem começa a se acostumar a ser um fraco.

 

Pois a verdadeira força está em acreditar que existe um amanhã. Que o sol vai voltar a nascer e para todos. Já alguém dominado pela tristeza espiritual, vê somente mais um dia igual ao outro, ao outro e ao outro. Melhorar, só na base da sorte. Piorar, é bem mais fácil.

 

Com o pensamento dominado pelo pessimismo, a alma começa a ser corroída.

 

 

A Vida na Escuridão

 

Tendo a alma essa tristeza, é óbvio a pessoa se cercar de outros iguais a ela. Com uma tendência de achar que o mundo está perdido, ela busca pessoas igualmente sombrias, ao invés de ir atrás de um mundo melhor, ou mesmo de uma vida melhor para si.

 

Reclamar e não fazer nada é melhor em grupo. Todo individuo gosta de ser escutado e tem a necessidade de exteriorizar suas emoções. A acídia age como um imã, atraindo pessoas semelhantes e afastando aquelas com um comportamento oposto.

 

Com escuridão por todos os lados, resta ao triste cidadão, a colocação da culpa de seus problemas sobre os ombros dos mais favorecidos pela sorte. Ele não enxerga as possibilidades de deixar sua fraqueza para trás, mesmo se a resposta estiver defronte a ela.

 

O Medo

 

A acídia faz a pessoa ter medo de mudar, pois a mudança pode trazer uma vida pior do que a anterior. Se estiver ruim agora, mas suportável, para que a mudança? Esse pensamento é muito comum.

 

O doente acaba se acostumando com a doença, e passa a ter medo da cura.

 

Mas o medo de mudar pode trazer o tédio e o desespero. As pessoas buscam sempre a evolução, mesmo quando não a acham possível. A estagnação espiritual, leva a pessoas no exagero de outros vícios. Uma pessoa triste, depressiva, pode se entregar de corpo e alma a mais ínfima esperança de amor, de amizade, pois em sua visão esses são bens raros, que não são comuns a ela. Ela não sente amor, mesmo o amor sendo presente em sua vida.

 

Derrotismo

 

A acídia faz com que as pessoas desistam de seus sonhos sem nunca tê-los tentado. Ou tudo é muito difícil, ou a pessoas não tem tempo ou os outros não são justos com ela. O “triste individuo” torna-se especialista em desculpas para justificar seu comportamento.

 

O sentimento de derrota antecipada é mais forte. E a pessoas resolve não dar sequer o primeiro passo, pois não vale a pena. Vai dar errado mesmo.

 

Blasé

 

Hoje em dia, a acídia leva muitas pessoas a um comportamento um tanto que indiferente. Há um clima de tanto faz em relação a política , religião ou mesmo em relação a vida pessoal e familiar. Trata-se de uma leve aversão a vida, que pode fazer com que o individuo caia em um oceano depressivo criado por ele próprio.

 

Ele se recusa a adaptar-se e prefere  conformar-se e a acomodar-se nesse mundo sombrio.

 

Antídoto

 

Temos como antídoto para a acídia o dom da fortaleza. Mas como buscar esse dom? Uma das maneiras, penso eu, é buscar o pensamento positivo, uma atitude mais otimista em relação a vida. É um primeiro passo.

 

Esse passo pode ser somado a uma “limpeza espiritual”, retirando da mente velhos ressentimentos, lembranças de antigas derrotas, teias de tristeza formadas pela falta de esperança.

 

Deve-se focar em ser forte. E ser forte é ser virtuoso.

 

Para tanto, as virtudes que combatem a acídia devem ser reforçadas e instigadas no ser da pessoa. Essas virtudes são a Diligência, ligada a Marte e a Magnanimidade, ligada ao Sol. Esta ultima é a capacidade de brilhar e iluminar os outros ao seu redor através de suas ações.

 

Já a diligência é a capacidade de guiar sua energia interior de forma a produzir de maneira efetivamente produtiva.

 

Nada nos anima mais do que ver os frutos de nossas ações e perceber que eles trazem o bem aos outros.

 

É claro, a própria virtude da Lua, a Humildade, é recomendada. Ser humilde não é ser um pateta ou um coitado, mas se conhecer e não ser nem mais nem menos do que é.

 

Conclusão

 

A acídia poderia ser muito bem o mal do século. Mas sua cura não é impossível. Basta acreditar que o Espírito vence a carne e que a mente é aquilo que nós treinamos ela ser: pode ser um poço de tristezas ou um oceano de alegrias. Nós escolhemos o que colocamos nela. Depende disso: a escolha e a ação referente a essa escolha.